quarta-feira, setembro 10

Mulheres que movem o presente e redesenham o futuro da economia criativa

Coluna Gira Criativa

Fabi Ivo em aula na formação “Elas no Corre” no CDHEP , turma de 2025 – Foto: Acervo

Por Fabiana Ivo

Em 2024, o Brasil alcançou a marca de 10,35 milhões de mulheres empreendendo (Sebrae), mas essa força não tem se traduzido, na mesma medida, em reconhecimento ou retorno financeiro no campo da economia criativa. O setor já representa 3,59% do PIB brasileiro (Firjan) e emprega milhões, mas ainda concentra as decisões e os ganhos nos lugares de sempre: homens, brancos e das regiões centrais. A fotografia é clara: as mulheres seguem recebendo apenas uma parte pequena dos direitos autorais e continuam sub-representadas em posições de liderança no audiovisual (Observatório Itaú Cultural; ECAD).

É nesse cenário que iniciativas como o Elas no Corre, conectadas à prática de A Banca e da ANIP – Articuladora de Negócios de Impacto da Periferia, têm mostrado como formação, rede e acesso a recursos abrem caminho para que mulheres negras e periféricas mudem sua própria trajetória econômica. Ali onde antes havia informalidade, baixa renda e poucas perspectivas, surgem negócios formalizados, marcas registradas, contratos assinados e impacto multiplicado na comunidade.

Protagonismos que inspiram

Eliane Dias – advogada, empresária e referência cultural, esteve em espaços da ANIP partilhando sua experiência como gestora dos Racionais MCs e articuladora de direitos. Sua trajetória mostra que a economia criativa é também disputa de narrativa e propriedade intelectual, colocando no centro a valorização do trabalho de artistas negros e periféricos.

Michele Fernandes – fundadora da Boutique de Krioula, acelerada pela ANIP e hoje parte do time de facilitadoras do Elas no Corre. Michele articula moda, estética e identidade preta em um empreendimento que fortalece a autoestima, gera renda e abre caminhos para outras mulheres.

Joy Izauri – CEO da Quebrada Orgânica, empreendimento de impacto socioambiental que conecta alimentação saudável, juventude periférica e sustentabilidade. Sua liderança mostra que criatividade e inovação também são práticas de cuidado com o território.

Aline Odara – fundadora do Fundo Agbara, primeiro fundo de mulheres negras no Brasil, que mobiliza recursos para impulsionar negócios e trajetórias de empreendedoras pretas. Aline mostra que a inclusão produtiva também passa pela criação de mecanismos próprios de financiamento, rompendo com a lógica excludente do sistema financeiro tradicional.

Inclusão produtiva na prática

Nem todo mundo sabe o que significa inclusão produtiva. De forma simples, trata-se de garantir que quem está à margem da economia consiga entrar, permanecer e prosperar no mundo do trabalho e do empreendedorismo. Isso inclui: acesso a crédito, redes de apoio, tempo liberado do cuidado, capacitação e reconhecimento da produção cultural como trabalho legítimo.

No campo da economia criativa, isso significa reconhecer e apoiar mulheres que já produzem moda, música, arte, audiovisual e gastronomia nas quebradas, mas que esbarram em barreiras históricas. Quando têm oportunidade de formação e acesso a recursos, essas mulheres não apenas fortalecem seus próprios negócios, mas também ampliam os circuitos econômicos da periferia, criando empregos, circulação de renda e novas referências culturais.

O que fica da Gira

A cada história, vemos que a inclusão produtiva com as mulheres no centro não é apenas política social é estratégia de desenvolvimento. Quando a formalização, o crédito e a propriedade intelectual chegam às mãos de mulheres criativas da periferia, toda a comunidade ganha.

Se hoje o desafio é fechar o gap de renda e reconhecimento, a resposta está justamente nas trajetórias de Eliane, Michele, Joy, Aline e tantas outras. Elas mostram que a potência criativa das periferias é também projeto econômico e de país.

Por isso, deixo aqui um convite: que cada mulher e homem que acompanha esta coluna faça parte dessa transformação no cotidiano. Comprar de uma empreendedora preta e periférica, contratar seus serviços, consumir sua arte ou divulgar sua marca não é apenas escolha de consumo é ato político, de fortalecimento das economias locais e de reconhecimento do valor dessas trajetórias. Ao incluir essas mulheres no nosso dia a dia, investimos em desenvolvimento justo, em diversidade e em futuro coletivo.

__

Gira Criativa – Um Giro Pela Potência da Periferia

A cada quinze dias, a Gira Criativa convida você para uma troca viva, pulsante e necessária sobre empreender na Economia Criativa e nos Negócios de Impacto da Periferia. Este não é só um espaço de fala — é espaço de escuta, de conexão e, sobretudo, de celebração dos saberes e fazeres que brotam dos territórios.

Aqui, giramos saber, conhecimento e prática. Costuramos sonhos com método, criatividade com resistência, cultura com desenvolvimento. Através de reflexões, relatos e provocações, vamos publicizar as pedagogias que nascem das brechas, das encruzilhadas e da força da Educação Popular — aquela que não se aprende só em livro, mas na vivência, no fazer coletivo e no corre diário de quem transforma sua realidade.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *