terça-feira, junho 24

Cultura de Preto: novo EP de Cris SNJ é uma reverência à ancestralidade

Por Gisele Alexandre

Se você curte rap como eu, sabe que ela sempre foi zica. A negona, Cris SNJ, é daquelas artistas que a gente não cansa de ouvir. No palco, ela é explosão! Fora dele, é discreta, humilde, e de sorriso fácil. Não dá para não ser fã.

Sexta-feira passada, 6 de junho, estive na Adega do Baguinho, para conferir o lançamento do EP “Cultura de Preto”, e foi o melhor rolê que eu poderia ter feito. A negona deu seu nome, fazendo um show com repertório que misturava os clássicos com as suas novas canções – que certamente também serão clássicos em breve.Eu já tinha ouvido as cinco músicas e me apaixonei! Cada som traz uma característica própria. O boom bap continua presente, mas a cada faixa é possível identificar elementos que dão “brilho” às batidas, como tambores e até cavaquinho. Todas as músicas já estão nas plataformas de áudios e tem também videoclipe da música “Grana”, com beat do DJ Wjhay e imagens do Coletivo Filmes, que tem a participação da atleta Ellen Valias:

São 20 anos e não 20 dias

Não me lembro quando ouvi a Cris pela primeira vez, mas, provavelmente, tenha sido no início dos anos 2000, com o grupo SNJ (Somos Nós a Justiça), referência do rap nacional. Quem não lembra do clássico “Pensamentos”? É só ouvir aquele solo de teclado que eu volto a ter 20 anos. Do álbum “O show deve continuar”, de 2003, esse som foi e continua sendo um hino:

Nascida e criada na zona sul de São Paulo, Cris é referência, não só na arte como na vida. Ela canta o feminismo preto com força e beleza há muito anos. Em 2017, lançou seu primeiro álbum solo, “Evoluindo Através dos Tempos”, que aborda temas como empoderamento, machismo e autoestima, e conta com participações de Stefanie Roberta, Amanda Negrasim, entre outras:

Ela usa sua música como forma de protesto e resistência, abordando questões de negritude, feminismo e desigualdade social. Em 2019, lançou o videoclipe do single “Dez Anos”,  que mistura influências de samba rock e rap, e foi produzido por Carlus Avonts:

A trajetória de Cris SNJ é marcada por uma luta constante por representatividade, igualdade e valorização da cultura periférica, e nós, ouvintes, só temos que agradecer por ela ser essa voz de resistência há tantos anos.

Gisele Alexandre: Jornalista, educomunicadora, articuladora cultural e gestora de projetos. Criada no Capão Redondo, periferia da capital paulista, atua há cerca de 20 anos no jornalismo periférico. É diretora-executiva da Pauta Periférica e idealizadora do Manda Notícias, do Clube de Criadores EduCapão e do Festival CultCom.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *