Por Wesley Narciso
Sendo eu um jovem periférico, morador do Capão Redondo, filho de uma mãe preta, guerreira e batalhadora, que sempre me servirá de base para entender que sempre tenho que estar disposto a matar o leão de hoje, como diz o Rapper Dk 47 na música Favela Vive 4: ‘’Se o leão de hoje ficar pra depois, amanhã ele já vira dois’’, inicio esse artigo voltando lá para 2022, em meio a um período muito delicado da minha vida, em que consegui me colocar em lugares que eu sempre sentia que devia estar, pelo potencial que carregava em mim, mas não sabia aonde aplicá-los.
O Programa Jovem Monitor Cultural (PJMC) é uma política pública voltada à juventude periférica, que tem como principal objetivo formar jovens entre 18 e 29 anos na área da cultura. O que antecedeu a minha entrada no programa, foi uma situação que vivi numa associação na Zona Sul de São Paulo, em que não me sujeitei, mas fui influenciado em meio a uma falsa esperança que me propuseram de moradia e salário, que em certo período me deparei com um trabalho análogo a escravidão, numa jornada exaustiva e forçada, sem liberdade e tempo para focar nas coisas que eu mais gostava. Tudo isso contradizia totalmente o que no início me propuseram ali, que em meio a promessas me tornei cego, mas algo dentro de mim sempre pulsava dizendo: ‘’Seu lugar não é aí, ta na hora de acordar, olha quem você está deixando de ser, um jovem criativo, inteligente, e mais, que deve ter liberdade para ter o seu protagonismo’’, ou como diz o Mano Brown: ‘’Ninguém quer ser coadjuvante de ninguém’’, e era o que eu estava sendo naquele momento.
Contudo, neste período realizei a minha inscrição no PJMC , depois de ter fuçado muito a internet. Mesmo pesquisando sobre, me aprofundando nessa lei, não estava compreendendo o que exatamente era essa política pública – assim como tenho certeza que muitos jovens não conhecem, pois normalmente essas informações não chegam até nós da periferia –, mas tinha a certeza que era exatamente ali que eu devia estar, aquilo era pra mim. A frase ‘’viver da cultura’’ sempre me rodeava, afinal, na minha experiência antiga, na Associação, de alguma forma também deveria oferecer cultura para mim, ou me desenvolver nesse sentido, pois as pessoas dali sabiam do potencial que eu tinha, mas ignoraram, preferindo apenas usufruir da minha mão de obra. Porém, nessa nova oportunidade, por ocasião do destino, quando me dei conta, já havia passado em todos os processos do PJMC, e finalmente, fui confirmado para participar do programa. Novamente, o rap veio a minha mente, me fazendo lembrar de uma referência do rapper Kamau, que diz: ‘’Se tem que ser assim, então assim será’’.
A cultura é um direito para todos e todas, mas poucos sabem disso. Eu também não sabia, mas adentrei nesse meio, abracei e me reconheci como um jovem com potencial para exercer e aprender tudo aquilo relacionado a políticas públicas, assuntos que eu nunca imaginei aprender, mas é pra mim, assim como também é para todos os jovens. Posso afirmar que, o PJMC foi um divisor águas na minha vida, porque abriu meu leque mental para poder ver que o mundo é grande, a cultura é abrangente, e cabe espaço para todos e todas. Afinal, de coadjuvante numa Associação, o programa me fez enxergar que eu era protagonista, assim como todo o jovem nasceu pra ser.
É pertinente colocar aqui alguns dados sobre o Programa Jovem Monitor Cultural, iniciado em 2008. Ao longo desses 15 anos de existência, muitos jovens já passaram por esta mesma experiência. Em 2017, mais de 40 mil inscrições foram feitas, e o número de vagas nos espaços culturais nesta época era de 220 jovens. Já na edição atual, de 2024, o programa selecionou mais de 330 jovens para atuarem nos espaços da cidade.
É importante deixar explícito todos esses dados, pois ressalto que a inclusão que o programa traz é necessária, pois eu vivi quase 2 anos trancado, por muitas vezes até sozinho, sem ninguém pra conversar ou trocar experiências, e quando ingressei no meu primeiro dia de atuação, eu vi rostos tão diferentes, alegres, sorridentes, diversos jeitos e costumes, e isso me trouxe um nível de socialização que eu nunca vou esquecer. Falar com jovens iguais ou diferentes de mim, me trouxe essa perspectiva que somos plurais, e vi que é essencial para todo jovem se socializar.
Atualmente, me encontro no meu último ano de atuação dentro dessa política pública, e mediante a tudo que aprendi, decidi idealizar um projeto pioneiro na área Pedagógica, que utiliza da música como ferramenta educacional para ensinar as crianças sobre bons hábitos sociais e alimentares, e pretendo levar este projeto para a base curricular escolar. Nem imaginava que eu poderia criar tal projeto, coloco isso como incentivo para mostrar que você, jovem, que está lendo isso, que possui uma mente fértil para sonhar e idealizar aquilo que você quiser.
Wesley Narciso (24) | Taboão da Serra
Se descobriu artisticamente no Rap no ano de 2015. Lançou diversos singles nas plataformas Youtube e SoundCloud, contando com EPs, álbuns e solos, tudo de forma independente. Atualmente se nomeia com o vulgo de MC Leyzin, e vem focando no Funk para sua ascensão artística.
Instagram: @mcleyzin