Em 2023, foram abertas 320 vagas para 126 equipamentos culturais espalhados por diferentes regiões da cidade de São Paulo
Por Elaine Sobrinho
Programa Jovem Monitor Cultural. Foto: Prefeitura de São Paulo
Se você já frequentou qualquer espaço cultural público em São Paulo, provavelmente já falou com algum jovem monitor cultural, seja para pedir alguma informação sobre o espaço, atividade ou evento, seja para simplesmente usar o banheiro do lugar. Mas, você sabe como o programa funciona?
O Programa Jovem Monitor Cultural (PJMC) surgiu em 2008, com a missão de formar e capacitar em gestão e produção cultural as juventudes com 18 e 29 anos, além de oferecer experimentação profissional nessa área. Em 2009, foi instituída a Lei 14.968/09, que foi regulamentada pelo Decreto 51.121/09, criando regras e procedimentos do programa. O PJMC é a maior política pública de formação cultural da juventude da América Latina.
A atuação do jovem é voltada para o desenvolvimento artístico e atendimento ao público e atualmente, o programa conta com 320 jovens atuando em 126 equipamentos culturais espalhados por diferentes regiões da cidade de São Paulo.
Mas, nem sempre foi assim, em 2013, passou a ser executado por meio de convênio e se expandiu para outros espaços culturais da Secretaria Municipal da Cultura (SMC), como teatros, bibliotecas, casas de cultura, museus, centros culturais, entre outros. Jovens de todas as regiões de São Paulo, do centro às periferias, passaram a atuar em equipamentos da Prefeitura, mas em 2022, os jovens que estavam atuando nos gabinetes da SMC não puderam mais continuar atuando naqueles espaços. A Secretaria alegou que é por não haver necessidade de jovens atuando nesses departamentos, eles deveriam ser realocados.
O comitê dos jovens monitores está na luta para manter jovens nesses espaços, mas a última palavra é da Secretária. Além disso, a partir da edição de 2022, a instituição parceira responsável por gerir o PJMC deixou de ser a ONG CIEDS e passou a ser a Associação Educacional Maria do Carmo.
Mudanças de gestão prejudicam o Programa
Uma edição nunca é igual a outra, os jovens mudam, a instituição parceira que ajuda a executar muda, o jeito de fazer as coisas, de dialogar muda, o que não muda é a forma como os jovens que atuam nestes espaços são vistos, geralmente acabam ficando sobrecarregados e “trabalhando” mais do que o estabelecido no edital, visto que não abre inscrição para concurso público na área da cultura há bastante tempo, o que faz com que jovens acabem executando funções de servidores públicos, outro fato que acaba contribuindo para isso é que muitos funcionários públicos que estão nestes espaços já estão quase se aposentando.
Outra questão do Programa é o valor da bolsa auxílio que está estagnado em R$ 1000,00 há uns bons anos, e nada se fala sobre o aumento para esses jovens que acabam atuando mais de seis horas por dia, como funcionários desses espaços culturais. Os jovens também relatam sobre a precariedade dos lanches oferecidos nas formações, algo que também tem que ser mudado.
Mesmo com alguns problemas, vale a pena participar
Agora, vale falar do tanto de coisa boa que tem nesse programa. Vocês sabiam que já existem muitos projetos f*da desses jovens nos espaços em que atuam? Já teve jovem que deu aula de francês; que informava sobre as leis e iniciativas que garantem o direito da população a arquitetura e engenharia, de forma gratuita; rodas de conversa sobre a presença de profissionais femininas dentro da sonorização, iluminação, montagem de palco, audiovisual e fotografia, oferecendo reflexões sobre o machismo nesses espaços; jovem que fez série de vídeos falando sobre mangás e animes, incentivando a leitura dessas HQ’s e informando também que há muitos mangás disponíveis nas bibliotecas municipais; entre outros tantos projetos incríveis que infelizmente não é possível citar todos.
Mas e depois que a formação acaba? Fica a experiência. Poucos jovens são contratados após o fim do Programa, foi pensando nisso que no final de 2021 a Secretaria de Cultura criou o desdobramento do PJMC, o Programa Criatividades, que aconteceu de março a outubro de 2022, foram aproximadamente 101 jovens nos espaços da Prefeitura, executando projetos que eles próprios criaram. Essa era a diferença do “Cria” para o jovem monitor, o “Cria” não estava no espaço para “trabalhar” como um jovem monitor, mas sim para executar o projeto de sua criação, e teve tanto projeto lindo que rolou, aula de fotografia, mediação de leitura, divulgação dos espaços culturais pouco conhecidos pelos moradores da região onde o espaço está localizado, como festival de punk pock, peças de teatros na escola, clube de leitura com uma das obras da Carolina Maria de Jesus.