Atualmente morando na cidade de Embu das Artes, Crica contou que nasceu, cresceu e estudou no distrito do Campo Limpo.
Por Noemi Santoro
Crica Monteiro, grafiteira plural da zona sul de São Paulo. Foto: Reprodução Facebook
O grafite é uma dos elementos da cultura hip hop, mas nem sempre foi visto como algo bom e sim como uma prática criminosa. Começou em Nova Iorque, nos Estados Unidos em 1970, alguns jovens começaram a deixar suas marcas e desenhos nas paredes.
Não demorou muito para que o grafite começasse a aparecer nas paredes e muros do Brasil e, aos poucos, foi perdendo essa imagem criminosa e foi virando algo cada vez mais presente na cultura brasileira. Mas, a maioria dos artistas que ganham visibilidade de imprensa com esses desenhos nas paredes são homens, poucas mulheres que participam desse movimento são reconhecidas.
Vamos conhecer um pouco a história de uma das grafiteiras mais influentes dessa arte no Brasil, Cristina Monteiro, mais conhecida como Crica.
De onde você é?
Hoje sou moradora da cidade de Embu das Artes, mas sou cria do Campo Limpo. Eu nasci, cresci e estudei aqui no Campo Limpo, no Parque Esmeralda. Eu sempre penso nesse processo de criança vivendo nesse espaço da zona sul, um lugar onde há muita cultura.
Como você começou no grafite?
Primeiro, queria dizer que não vim da pichação, eu admiro demais os pichadores, mas a minha história vem antes de ser grafiteira. Tenho uma mãe que começa a trabalhar com artesanato e também dar aula, então, a minha mãe é a primeira pessoa empreendedora que vi na minha vida sendo mulher. Ela também costurava, então eu cresci em um ambiente com materiais de pintura. Meu pai era pintor de prédio e, na adolescência, fui picada pelo bichinho do grafite, foi quando entrei no movimento hip hop.
Além do grafite, você trabalha com alguma outra coisa?
Hoje eu trabalho 100% com a minha arte. Atuo em quatro áreas: o grafite que vem antes de tudo e me levou para vários lugares; por causa do grafite eu sou formada em design de interface, trabalhei anos no mundo corporativo até chegar o momento da minha carreira; enquanto designer; e ilustradora que também faz parte da minha carreira enquanto artista, eu comecei a entrar cada vez mais dentro da ilustração e também fui para o lado da criação de conteúdo.
Você apoia o movimento “Não É Só Tinta”, qual o objetivo dessa manifestação?
Antes de mais nada, tudo isso aconteceu, principalmente, por que a gente percebeu que o Itaú Cultural fez um projeto que era para ter muitas mãos, mas não teve. Contar a história do grafite é muita coisa, fazer a história do grafite de forma unilateral é muito errado, então eu acho que nosso maior motivador para bater de frente com uma corporação, por que a gente tá falando de uma grande empresa que é o Itaú, tem muita responsabilidade porque muita gente vai nesses espaços com excursão de escola para entender qual é a essa história do grafite e a história do grafite foi contada muito pela perspectiva de uma pessoa privilegiada, branca, que vive no centro de São Paulo, aliada a um grupo de pessoas que não abrange o resto da galera do movimento.