Partindo dos princípios do movimento hip hop, os eventos são importantes para promover a liberdade de expressão, a luta por direitos e o acesso à cultura nas periferias.
Por Lyan Arruda
Batalha do Parque Santo Antônio. Foto: Kaio Quinto
As batalhas da rima surgiram quase ao mesmo tempo que o rap, fosse por meio de “diss”, faixa em que os rappers se enfrentavam, ou seja, por uma briga improvisada entre MCs nas ruas do Bronx, Nova York, o berço do hip hop na década de 1970. Acredita-se que tenham começado na cena da Costa Leste, no final dos anos 1980. Uma das primeiras e mais notórias lutas ocorreu em dezembro de 1982, quando Kool Moe Dee enfrentou Busy Bee Starski.
Elas chegaram no Brasil aproximadamente nos anos 2000, as primeiras equipes (também chamadas de crews) se reuniram na Galeria 24 de Maio, no centro de São Paulo. Muitas dos MCs se incentivaram a rimar e fazer as batalhas por contas dos rappers da época como Racionais MC’s, Sabotage entre outros que influenciam a juventude na época.
“Eu comecei a rimar justamente depois que comecei a ouvir Tupac, Marcelo D2, Sabotage, Racionais, entre outros vários grandes artistas. Eles me influenciaram a começar a olhar mais para o sistema, o jogo social, o jogo político e conseguir entender que o que nos é dado é sempre o mínimo para falar que deram alguma coisa, quando, na verdade, não que é o suficiente”, Gabriel Cypriano, 28 anos, MC e morador do Capão Redondo.
Muitas das batalhas se tornaram um movimento político, vamos falar sobre duas delas que acontecem no distrito do Capão Redondo: Batalha do PSA (Parque Santo Antônio) e a Batalha da Lilás.
“A Batalha do PSA é um movimento 100% político. Porque é um movimento da cultura hip hop e a cultura foi criada por pessoas negras para combater o sistema”, conta Fabia Roberta, 40 anos, produtora cultural e uma das organizadoras da Batalha do PSA.
As causa sociais e a luta por direitos fazem parte desse movimento, como conta Leonardo Henrique (vulgo Leozin), de 20 anos, morador do Jardim Ângela e um dos organizadores da Batalha da Lilás: “Acho que vai além, depende do que você quer dizer com ‘movimento político’, mas não deixa de ser um movimento que levanta bandeiras, principalmente a das meninas e mulheres. Posso falar com segurança, que somos a batalha de rima de São Paulo que mais inclui mulheres na cidade”, diz.
E por conta das batalhas terem se popularizado justamente nas periferias, ao invés das áreas nobres, os MC que vivem nesse contexto social e que participam dos eventos, tem como intenção abordar temas importantes para essa população de forma mais visíveis, com intuito de provocar mudanças positivas.
“É importante que as pessoas possam ter liberdade de expressão, possam fazer suas críticas e compartilhar ideias. É um lugar elas se sentem acolhidas e se identificam muito com suas realidades. Além disso, é um lugar onde há motivação para enxergamos que podemos ser gigantes”, diz Matheus Cypriano, 26 anos, morador do Capão Redondo e participantes de batalhas.
Mas não é só de luta que as batalhas são feitas, pelo contrário, esses eventos são importantes para promover a cultura nas periferias da cidade, como conta Edvaldo Ribeiro (Neto), de 25 anos, morador do Capão Redondo: “Periferia é periferia, sempre vai ter alguém que se identifique, alguém que tenha alguma letra, algum talento e é assim que eu acho nasce um artista! Acho que a importância da rima na periferia é as pessoas poderem brincar, se divertir, mostrar ou despertar o seu próprio talento”, conta.
Serviço
Batalha do PSA (Parque Santo Antônio)
Local: Em frente a E.E. Arnaldo Laurindo, que fica na Rua Altino Alves de Abreu, 110 – Parque Santo Antônio, São Paulo
Dia e horário: toda segunda-feira, a partir das 19h
Batalha da Lilás
Local: em frente a estação Capão Redondo do metrô, altura do número 4.765 da Av. Carlos Caldeira Filho
Dia e horário: todo domingo, a partir das 19h