quarta-feira, novembro 13

Reeleição de Ricardo Nunes e a Crise de Representatividade Política em São Paulo

Foto: Pedro França/Agência Senado

Eleições 2024
Por Carolina Rosa 

“O resultado das eleições e o cenário pós-eleição na cidade de São Paulo mostra que, desde 2016, seguimos enfrentando uma forte crise de representação política”, é o que afirmou a co-vereadora, ativista de direitos humanos e educadora Débora Dias do mandato coletivo Quilombo Periférico, do PSOL. 

Segundo a opinião de ativistas periféricos, a reeleição de Ricardo Nunes (MDB) representa um retrocesso em relação à representatividade na política, principalmente para grupos sub-representados como a população periférica, mulheres, professores, negros, indígenas urbanos e outros. Isso porque, Nunes, que representa valores da direita, ou seja, defende posições conservadoras, e conquistou sua reeleição sendo o candidato mais votado em 54 das 57 zonas eleitorais. 

Alex Barcellos, articulador e produtor cultural, também ex-co-vereador do Quilombo Periférico comenta sobre o cenário das eleições serem diferentes dos últimos, considerando o alto índice de abstenção de votos totalizando 2.940.360 (31,54%), paulistanos, que não compareceram às urnas.

“Essa foi uma campanha difícil e com o resultado infelizmente anunciado, pois Ricardo Nunes tem a máquina nas mãos, ou seja, 32 subprefeituras, indicados políticos, vereadores de apoio que foram reeleitos e novos eleitos que confirmam esse cenário centro-direita para os próximos quatro anos”, afirmou Alex.

O resultado pode demonstrar que os paulistanos de periferia, que no primeiro turno escolheram Pablo Marçal (PRTB), colocando o candidato conservador em terceiro lugar, migraram seus votos para Nunes, fato que reforça a ineficiência da campanha do candidato da esquerda, Guilherme Boulos, que representava o campo mais progressista.

Para Débora Dias, a avaliação do resultado das eleições mostra também que a esquerda deve rever seu trabalho de base e apostar na ampliação do diálogo, pois a vitória da direita, significa que o povo continua procurando por alternativas que possam, de fato, compreender suas necessidades, e é aí que entra o trabalho feitos nas associações, nos fóruns e outros espaços comunitários onde a população mais pobre se reúne para discutir as políticas dos territórios.

“É triste ver que de repente, Pablo Marçal se mostrava como uma grande alternativa com o discurso de ser anti-sistema, quando, na verdade, a gente sabe que, na prática, ele não tem nada de anti-sistema. Pelo contrário, ele serve exatamente ao sistema neoliberal ultra capitalista que se organiza a partir da lógica da exploração, mas tinha uma narrativa pronta que se espalhou com facilidade”, reflete Débora.

Estratégias de discurso

Outra característica marcante da popularização das campanhas de direita em São Paulo, diz respeito ao  diálogo com as juventudes periféricas, utilizando estratégias de discurso que se apropriando de imagens  de artistas do Rap e do Funk, mesmo sem prévia autorização.

Para Débora, é necessário que as organizações políticas sociais valorizem os espaços onde se produz cultura e que são espaço não tradicionais de construção política, como batalhas de rima, dubs, bailes funk e outros lugares que a juventude está se organizando e se construindo politicamente. 

“A esquerda precisa dar atenção novamente a esse olhar para espaços não tradicionais, mas não para catequizar a juventude, mais sim para somar forças e ser essa presença constante a partir de uma radicalidade da presença e não só do discurso; por isso, fica essa tarefa para o movimento social e para as organizações partidárias, endossar a radicalidade na ação, nos 365 dias do ano em nossos territórios”, completa.

Alex Barcellos falou também sobre a situação da cultura no município de São Paulo, que mesmo sendo a mais rica, continua tendo problemas estruturais que dificultam o desenvolvimento dos equipamentos:

“Na cultura, a cidade de São Paulo não tem nenhum Conselho Municipal de Cultura, não se estabelece vínculo com o Ministério da Cultura e com a Política Nacional, através do Conselho, por meio de uma conferência eficiente que facilite a atuação dos equipamentos culturais do município”, conta. “Atualmente, a Secretaria de Cultura não consegue repassar 1% de investimento na cidade mais rica do Brasil, favorecendo o sucateamento e consequentemente o fechamento de associações, coletivos e coletividades, bibliotecas comunitárias e casas de cultura principalmente nas extremidades da capital”, completa.

Militantes periféricos e articuladores de cultura e política observam que os próximos anos serão de luta e uma nova compreensão social para reversão do cenário, e o trabalho de base será essencial para que isso seja possível. 

“Para os próximos anos, falando aqui da cidade, fica a missão da radicalidade, mas a radicalidade que tenho dito é não só a nossa radicalidade enquanto esquerda e do discurso da luta da classe trabalhadora, mas da radicalidade da ação, de ir para a rua e trocar, nas banquinhas, no ônibus e no metrô, no porta a porta, para começarmos a reverter esse cenário”, concluiu Débora. 

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