sexta-feira, outubro 31

Favelas em pauta: encontro no Rio reúne jornalistas de quebrada para discutir narrativas antirracistas

Jornalistas e Comunicadores populares reunidos no Festival 3i, que também acontece no RJ. Foto: Vic Santos

Por Carolina Rosa 

Em meio a tensões na cidade do Rio de Janeiro e a poucos dias da COP 30, que neste ano acontece em Belém (PA), a Rocinha, uma das maiores e mais emblemáticas favelas do Brasil, reúne jornalistas para discutir o jornalismo feito a partir de favelas e periferias. Entre os dias 30 de outubro e 1º de novembro, o território recebe a 3ª Conferência de Jornalismo das Favelas e Periferias, com o tema “Justiça climática para nossos territórios”.

Organizado pelo Fala Roça, em parceria com a Agência Mural de Jornalismo das Periferias, o evento propõe debater os impactos da crise climática a partir das experiências das comunidades e construir coletivamente um dossiê de recomendações para políticas públicas e ações de comunicação que partam das periferias.

Vista da Favela da Rocinha, território sede da 3ª Conferência de Jornalismo das Favelas e Periferias 2025

A conferência reúne jornalistas, comunicadores e lideranças comunitárias de 27 regiões do Brasil, a jornalista Gisele Alexandre, diretora executiva do Manda Notícias também estará presente.

A programação principal, que acontece no dia 31 de outubro, na Biblioteca Parque da Rocinha (C4), é gratuita e aberta ao público. Os ingressos se esgotaram em poucas horas, sinalizando a relevância do tema e o interesse crescente em discutir o papel do jornalismo de quebrada na agenda ambiental.

2ª Conferência de Jornalismo das Favelas e Periferias que ocorreu em 2024.

O evento acontece também em um momento de luto e indignação. Dois dias antes da abertura, o Rio foi palco da maior e mais violenta operação policial da história recente. A ação no Complexo da Penha e no Alemão, no dia 28 de outubro, deixou mais de 100 pessoas mortas. A tragédia escancarou a urgência de discutir jornalismo antirracista e políticas de extermínio, temas que atravessam as pautas da conferência e reforçam o papel das mídias de favela na defesa do direito à vida e à comunicação.

“Toda a programação foi pensada para propor recomendações concretas que partem das vozes das favelas e periferias sobre as injustiças climáticas”, explica Tatiana Lima, coordenadora de jornalismo do Fala Roça. “O grupo de jornalistas que participa da imersão são comunicadores que têm muito a dizer, ensinar e trocar. Eles são convidados, mas também expositores das mesas e oficinas.”

Durante os três dias de imersão, a conferência aborda temas como justiça climática, sustentabilidade, filantropia para o jornalismo local, cultura, ancestralidade e jornalismo antirracista. A proposta é que o encontro funcione como um espaço de formação, troca e incidência política, especialmente em um momento em que o Brasil volta ao centro das discussões globais sobre o clima.

“Em um ano de COP 30, o evento conecta o jornalismo periférico às discussões locais sobre justiça climática, propondo soluções que partem das comunidades”, destaca Monique Silva, gestora do Fala Roça. “O foco está nas vozes que vivem e constroem cotidianamente alternativas sustentáveis nos territórios.”

A realização conjunta entre Fala Roça e Agência Mural reforça uma tendência que vem se fortalecendo nos últimos anos: a cooperação entre veículos de comunicação de favelas e periferias. Para Anderson Meneses, diretor de negócios da Mural, essa aliança é estratégica num cenário em que os territórios populares estão na linha de frente tanto dos impactos quanto das soluções climáticas.

“As favelas e periferias estão entre os territórios mais afetados pelas mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, são onde surgem muitas das soluções mais criativas e coletivas”, afirma Meneses. “Essa conexão nacional é essencial para que nossas vozes incidam de forma real nas políticas e decisões que impactam o país.”

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