Coluna Ombala

ADRA – Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiente (Angola) 2025. Foto: Divulgação
Por Silvia Mungongo
As datas de 25 e 31 de julho representam marcos fundamentais na luta das mulheres negras, tanto na diáspora quanto no continente africano. Em 25 de julho, celebra-se o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, reconhecido no Brasil também como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.
A data é dedicada à reflexão e à mobilização em torno das desigualdades enfrentadas por essas mulheres, marcando presença com eventos, manifestações culturais e debates públicos.
A origem da data
O 25 de julho foi instituído em 1992, durante um encontro na República Dominicana que reuniu representantes negras de mais de 70 países da América Latina e Caribe. Esse encontro ocorreu no contexto das preparações para grandes conferências internacionais, como a do Cairo (1994) sobre população e desenvolvimento, e a de Pequim (1995), sobre os direitos das mulheres. A partir desse evento, formou-se a Rede de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, que fortaleceu o reconhecimento internacional da data.

Foto Cecília Mungongo
O Dia da Mulher Africana
Já o 31 de julho, Dia da Mulher Africana, foi proclamado em 1962 durante a fundação da Organização Pan-Africana de Mulheres (PAWO), na Tanzânia. A data destaca o protagonismo das mulheres africanas na luta pela independência dos países do continente e seu papel no desenvolvimento social e político de África. De acordo com a União Africana, o dia 31 de julho é uma oportunidade para reafirmar o papel essencial das mulheres africanas na construção de uma África mais justa, unida e sustentável.
Conexões entre África e diáspora
África é dividida em cinco regiões geográficas e reconhece uma sexta: a diáspora africana, que inclui as comunidades formadas por descendentes de africanos espalhados pelo mundo após o tráfico transatlântico de escravizados. As celebrações dos dias 25 e 31 de julho aproximam essas histórias e fortalecem os laços entre as mulheres negras do continente e da diáspora, em suas lutas por reconhecimento, igualdade e justiça.

Mulheres Negras africanas no Campo. Foto: Cecília Kitombe
Desafios comuns e resistências
Embora em contextos distintos, mulheres africanas e afrodescendentes enfrentam desafios semelhantes: racismo, sexismo, desigualdade de oportunidades e violência. No Brasil, por exemplo, a população negra corresponde a 54% da população, segundo o IBGE, e ainda é a que mais sofre com a pobreza e a exclusão social. Mulheres negras recebem, em média, apenas 44% do rendimento dos homens brancos (IBGE, 2019).
No âmbito da violência, os dados também revelam desigualdades alarmantes: a população negra é a mais afetada por homicídios, violências domésticas e falta de acesso a direitos básicos. Diante desse cenário, o 25 de julho se firmou como um dia de organização, denúncia e proposição de políticas públicas, que considerem a realidade das mulheres negras, indígenas e de comunidades tradicionais.
O contexto africano
Segundo dados da União Africana, a população do continente africano gira em torno de 1,5 bilhão de pessoas, sendo 52% mulheres. No entanto, essa maioria demográfica não se reflete em representatividade política ou equidade social. Mulheres ainda enfrentam restrições no acesso a cargos de poder e na garantia de seus direitos. Um relatório de 2024, do Banco Africano de Desenvolvimento e da Comissão Econômica das Nações Unidas para a África, revelou que apenas 7% dos cargos executivos no continente são ocupados por mulheres, e a média de representação feminina nos parlamentos nacionais é de 24 a 26% — com destaque para Ruanda e Namíbia, que superam os 60%.
Essa desigualdade evidencia a necessidade urgente de políticas voltadas à equidade de gênero, sobretudo em regiões com altos índices de violência e limitado acesso à informação.
Herança ancestral como força
Apesar das dificuldades, as mulheres negras — tanto do continente africano quanto da diáspora — compartilham muito mais do que dores. Elas compartilham ancestralidade, força e beleza. São lindas, não apesar da cor da pele, mas por causa dela, como disse a poeta angolana Ercília Mangovo. É justamente por meio dessa herança ancestral que tantas mulheres seguem rompendo barreiras e construindo caminhos de resistência, solidariedade e empoderamento.
Julho das Pretas: para além da dor
O Julho das Pretas; é mais do que uma denúncia das injustiças históricas. É também um tempo de celebração de conquistas, fortalecimento de redes de apoio e de reafirmação do protagonismo negro nas lutas por justiça social. Continuaremos em marcha, unindo vozes e histórias, até que todas sejamos livres.
Viva o 25 de julho. Viva o 31 de julho. Viva a resistência das mulheres negras de cá e de lá.

Silvia Mungongo: natural de Luanda, Angola, atualmente residente na cidade de São Paulo, é socióloga, ativista, poeta e jornalista. Profissional de comunicação com sólida experiência em redação, locução, reportagem e edição. Atuou em diversas plataformas, como rádio, televisão e mídia digital, desenvolvendo e apresentando conteúdos informativos e engajadores.
Sobre a coluna: Ombala é uma palavra na língua angolana Umbundu, que significa capital ou sede. Portanto, um lugar de encontros e reencontros e onde normalmente residem Reis e Rainhas. A coluna pretende ser um espaço de reencontro da cultura africana, seus fazedores e sua abrangência na diáspora. Será um prazer ter-vos por aqui. Ngasakidila!