quinta-feira, julho 31

Potência criativa nas margens: o empreendedorismo das mulheres periféricas e o abismo do acesso

Coluna Gira Criativa

Fórum Criando Pontes 2019 – Foto: Acervo pessoal

Por Fabiana Ivo

Empreender no Brasil sendo mulher, negra, da periferia e atuando na economia criativa ou em negócios de impacto é, antes de tudo, um ato político. É desafiar diariamente a lógica da escassez, da invisibilidade e da exclusão estrutural. Apesar das inúmeras barreiras, essas mulheres seguem produzindo inovação, sustento, cultura e transformação social — muitas vezes, a partir do mínimo.

A disparidade de acesso a recursos é escancarada pela pesquisa do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da FGV (FGV CENN), que revelou que empreendedores da periferia têm 37 vezes menos recursos do que os que empreendem em regiões como a Faria Lima, em São Paulo, epicentro do capital financeiro brasileiro.

Mesmo com esse abismo, os dados mostram que os empreendedores das periferias, em especial as mulheres, geram negócios mais conectados com as demandas do território, empregam proporcionalmente mais pessoas negras e constroem soluções diretamente ligadas à melhoria da qualidade de vida nas comunidades.

Terceira turma de formação ANIP – Foto: Acervo pessoal

Esse movimento está intrinsecamente ligado à força da economia criativa, que hoje representa 3,5% do PIB do Brasil, segundo levantamento da Fundação Itaú em parceria com a Omnia. Isso equivale a cerca de R$ 230 bilhões ao ano. Boa parte dessa riqueza simbólica e financeira vem das mãos de mulheres que bordam, trançam, cantam, desenham, escrevem, performam e empreendem a partir de seus saberes e trajetórias.

Neste cenário, a regulamentação da profissão de trancista, sancionada em 2024, marca um ponto de virada. É mais que reconhecimento jurídico: é a validação de um saber ancestral, que sustenta economicamente milhares de mulheres nas periferias e afirma a identidade negra como forma de existência, criação e resistência. Essa conquista precisa ser celebrada — e, mais ainda, replicada para outras práticas populares que seguem à margem da formalidade.

A contradição, no entanto, persiste: quem move a economia com criatividade, pertencimento e impacto social na periferia ainda encontra enormes dificuldades para acessar crédito, políticas públicas e estruturas de apoio. Por isso, fortalecer fundos comunitários que nascem nos territórios e entendem suas dinâmicas é um dos caminhos mais eficazes para romper esse ciclo de exclusão. Um exemplo inspirador é o Fundo Comunitário Perifa Sul de M’Boi Mirim, fomentado pelo Bloco do Beco (fundo voltado para periferia), o Fundo Agbará (fundo voltado para mulheres pretas)  e o Fundo Aqué (primeiro fundo filantrópico para pessoas trans) que investem diretamente em iniciativas diversas, com base na confiança e na escuta ativa. É esse tipo de estratégia — enraizada, coletiva e de longo prazo — que precisamos multiplicar.

Fórum de negócios de impacto da periferia 2018 – Foto: Acervo

Se com pouco fazemos tanto, imagine com tudo o que nos é de direito. Por isso esse chamamento é para você, cruzar as pontes, como diz Mano Brown “Cruzar as pontes e garimpar”, garimpar conhecimento, está em espaços que dizem que não foram feitos para nós, a síndrome das impostora as vezes nos invade, porém aqui juntas vamos desconstruindo termos, conceitos que não chegam, ou chegam dificílimo para que não tenhamos a visão, porque todos os lugares desde que eu, você queira está, é para nós!!! Que o obstáculo maior não seja eu mesma, me sabotando, porque se depender desta coluna aqui não será, bora juntas aprender e compartilhar.

  • #EconomiaCriativaDaPeriferia #FundoComunitário #PeriferiaViva #ImpactoNasPeriferias #ComFazer #FortaleceOTerritório #ConfiançaÉCrédito #InvestimentoDeBase #FilantropiaPeriférica #ComTudoQueÉNossoPorDireito

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Gira Criativa – Um Giro Pela Potência da Periferia

A cada quinze dias, a Gira Criativa convida você para uma troca viva, pulsante e necessária sobre empreender na Economia Criativa e nos Negócios de Impacto da Periferia. Este não é só um espaço de fala — é espaço de escuta, de conexão e, sobretudo, de celebração dos saberes e fazeres que brotam dos territórios.

Aqui, giramos saber, conhecimento e prática. Costuramos sonhos com método, criatividade com resistência, cultura com desenvolvimento. Através de reflexões, relatos e provocações, vamos publicizar as pedagogias que nascem das brechas, das encruzilhadas e da força da Educação Popular — aquela que não se aprende só em livro, mas na vivência, no fazer coletivo e no corre diário de quem transforma sua realidade.

A Gira Criativa é também um chamado. Um convite para quem entende que empreender na quebrada não é só gerar renda, é gerar impacto, autonomia, pertencimento e futuro. Porque aqui, criar é resistir. E resistir é também girar: transformar, movimentar e nunca deixar parar.

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