Iniciativa tem o objetivo de dialogar diretamente com comunidades, movimentos sociais e coletivos culturais sobre políticas públicas voltadas às periferias.

Por Gisele Alexandre
Na última terça-feira, 28 de maio, a Associação Bloco do Beco, no Jardim Ibirapuera, zona sul de São Paulo, recebeu mais uma edição da Caravana das Periferias. A iniciativa da Secretaria Nacional de Periferias (SNP), vinculada ao Ministério das Cidades, tem percorrido diversos territórios urbanos no Brasil com o objetivo de dialogar diretamente com comunidades, movimentos sociais e coletivos culturais sobre políticas públicas voltadas às periferias.
O encontro foi aberto oficialmente pelos anfitriões Carla Arailda e Luiz Claudio, fundadores do Bloco do Beco, e contou com a presença do secretário nacional de periferias, Guilherme Simões, que destacou o ineditismo e a urgência da criação da secretaria: “É graças à luta do movimento social que a gente conseguiu, na última eleição, pautar o então novo governo para criar um espaço institucional específico para as periferias do Brasil. E eu tenho a maior honra, o maior orgulho de ser o primeiro secretário nacional de periferias da história do nosso país.”
Durante o evento, Simões apresentou o Programa Periferia Viva, uma das principais ações da SNP, construído a partir de uma escuta ativa realizada em diversas regiões do país, ao longo do primeiro ano da gestão, por meio da Caravana das Periferias.
O Periferia Viva é a revisão do antigo programa de urbanização de favelas do Governo Federal e integra o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A SNP atua especificamente em duas frentes: urbanização de favelas e prevenção de riscos de desastres, como obras de saneamento, iluminação, contenção de encostas e melhorias habitacionais. Mas, Simões destacou, que o foco não é apenas estrutural.
“Embora as periferias precisem muito de infraestrutura urbana, nós não queremos, de forma alguma, abrir mão dessa lição de casa. Muito pelo contrário, queremos fazer e fazer bem. A gente sabe que não se limita a isso”, explicou o secretário.
Para garantir a participação social, o programa exige que os municípios que receberão os investimentos do PAC, criem postos territoriais e contratem assessorias técnicas multidisciplinares, com profissionais de áreas como arquitetura, assistência social, cultura, direito e mobilização comunitária.
De acordo com Simões, no plano de ação Periferia Viva não é só o engenheiro que é envolvido na obra, é necessário envolver também um mobilizador do território, um articulador de cultura e outros agentes importantes para a região: “Então, a gente ancora com infraestrutura urbana, mas outros 17 Ministérios aportam ações nesses territórios. De forma multidimensional, a gente atua nas maiores deficiências que esses territórios têm”.
Além da Caravana e das obras estruturais, o Periferia Viva se sustenta em mais dois eixos: o Mapa das Periferias, uma plataforma colaborativa de mapeamento de iniciativas locais, e o Prêmio Periferia Viva, que apoia financeiramente projetos e coletivos periféricos de todo o país.
“Nós achamos que parte expressiva dos problemas da sociedade brasileira podem e devem ser resolvidos a partir dos territórios periféricos, a partir dos agentes coletivos organizados. E é esse é o recado que a gente quer dar com o prêmio Periferia Viva”, conta Simões.
Guilherme Simões aproveitou a oportunidade para anunciar que a terceira edição do prêmio será lançada oficialmente no dia 14 de junho, em evento ainda sem local definido.
Logo depois do discurso inicial, foi aberto um momento para perguntas, onde dez pessoas puderam comentar a fala do secretário e fazer suas perguntas. Durante o momento de resposta, Simões, que é morador do distrito do Grajaú, explicou sobre processo de escolha dos municípios beneficiados pelo PAC:
“No Ministério das Cidades, o orçamento é todo feito de forma indireta. Você pactua com municípios e governos estaduais. E são eles que decidem onde vai ser investido o dinheiro. Nós temos um contrato com a Prefeitura de São Paulo aqui, na região do Capão Redondo, não fomos nós que escolhemos. Eu brinquei, se fosse pra eu escolher, escolheria o Grajaú, pô”, concluiu em tom de brincadeira.
A noite no Bloco do Beco reafirmou o papel essencial das periferias na formulação de políticas públicas, valorizando o território como espaço de resistência, criação e transformação social.
