Meio Ambiente
Por Carolina Rosa
Na sexta-feira, 11 de outubro, Maria Ângela, moradora do Jardim Germânia, testemunhou uma das tempestades mais assustadoras dos últimos tempos. Ela havia deixado a casa de seu irmão, que havia acabado de receber um neném, quando foi surpreendida pelo temporal: “A tempestade foi acompanhada de uma explosão e um apagão que durou quatro noites e três dias no meu bairro,” contou.
A tempestade, que atingiu São Paulo, durou cerca de 30 minutos, mas causou estragos significativos, especialmente nas áreas periféricas. O cenário nas ruas se assemelhava a um apocalipse: árvores caídas, fachadas de comércios destruídas e lixo espalhado por todos os lados. No dia seguinte, 12 de outubro, Dia das Crianças, muitos comércios e locais de lazer nas periferias permaneciam fechados, enquanto a população lidava com o desespero gerado pela falta de conexão nos smartphones.
A Enel, concessionária responsável pelo fornecimento de energia elétrica em São Paulo, foi alvo de críticas por sua falta de resposta às inúmeras solicitações de reparo nas redes elétricas. As periferias, como Jabaquara, Santo Amaro, Pedreira e Campo Limpo, estão entre as mais afetadas. De acordo com dados da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), aproximadamente 2,3 milhões de consumidores ficaram sem luz, e até o momento, foram registradas quase sete mortes relacionadas aos efeitos da tempestade, a maioria em áreas sob concessão da Enel.
Cinco dias após a chuva, cerca de 90 mil consumidores ainda aguardam a resolução do apagão. A empresa anunciou que reforços foram mobilizados para restabelecer a energia para os 2,1 milhões de pessoas afetadas, na capital e na região metropolitana. No entanto, quase três dias após a tempestade, cerca de 340 mil clientes, predominantemente em áreas mais vulneráveis, ainda estavam sem energia.
Moradores do Campo Limpo, zona sul da cidade, fecharam a Estrada do Campo Limpo nesta terça-feira (15), umas das principais avenidas que dão acesso aos bairros da região, em protesto a Enel e a Prefeitura pelo quarto dia seguido sem energia.
Esse descaso se reflete na precariedade do acesso à eletricidade nas periferias, que já enfrentam dificuldades em eventos climáticos extremos. Além disso, comunidades vulneráveis são as mais afetadas pela falta de informações e tecnologias que poderiam amenizar os impactos de crises como esta. Cidades da Grande São Paulo, como Cotia, Taboão da Serra e São Bernardo do Campo, também enfrentam a falta de luz, mas é nas quebradas que a realidade se torna ainda mais crítica.
Mais uma vez, as comunidades das periferias de São Paulo sofrem com a ausência de suporte e infraestrutura, revelando a necessidade urgente de políticas públicas que priorizem essas áreas em emergências.
Enel acumula multas e risco de perder a concessão
A Enel Distribuição São Paulo enfrenta pressão crescente e acumula R$ 320 milhões em multas aplicadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), desde que assumiu o serviço em 2018. Além disso, o risco de perder a concessão de fornecimento de energia elétrica na capital paulista tem se intensifica, à medida que a empresa continua a atrasar o pagamento
Um dos casos mais críticos envolve uma multa de R$ 165,8 milhões, aplicada em novembro de 2023, após uma cobrança que afetou milhões de consumidores em São Paulo. No entanto, a cobrança foi suspenso por decisão da Justiça Federal, após a Enel entrar com um processo contra a Aneel. Além disso, a notificação ainda não quitou uma multa de R$ 95,8 milhões por falhas na qualidade do fornecimento de energia, igualmente suspensa pela Justiça.
A sequência de apagões tem agravado a situação da Enel em São Paulo. Após o blecaute de novembro de 2023 e um segundo incidente em março de 2024, a capital e a Grande São Paulo enfrentam, em outubro deste ano, o terceiro grande apagão em menos de 12 meses. A crise intensificou a insatisfação dos consumidores e aumentou a pressão sobre a Aneel, que agora avalia com mais rigor a possibilidade de revogar a concessão da Enel devido ao recorrente descumprimento de suas obrigações.