Gira Criativa

Formação “Elas no Corre” realizado pela BANCA, turma de 2025. Na foto Fabiana Ivo com a turma de mulheres. Foto: Acervo
Por Fabiana Ivo
As mulheres movimentam a base da economia criativa brasileira — com seus fazeres culturais, saberes ancestrais, estéticas diversas, estratégias de sobrevivência e invenções do cotidiano. Estamos nas ruas, nas redes, nas feiras, nos palcos e nas comunidades. Então por que ainda somos invisíveis nos espaços de decisão, destaque e reconhecimento institucional?

Essa pergunta ecoa entre muitas de nós. E é justamente a partir dela que nasceu o projeto Elas no Corre, uma formação feita de ponta a ponta por mulheres da periferia, que não apenas empreendem, mas também criam seus próprios caminhos, redes de apoio e modelos sustentáveis.
Mais do que uma formação, o Elas no Corre é uma proposta política, pedagógica e econômica. Ao longo de cinco encontros intensos, reunimos mais de 30 mulheres das periferias, criando um ambiente de escuta, troca e fortalecimento mútuo — com toda a equipe de trabalho composta por mulheres da quebrada: da produção à facilitação, da fotografia à comunicação.
Iniciamos com “Raízes e Propósito: quem eu sou no corre?”, mergulhando na escuta de si, no pertencimento e nos acordos que nos mantêm em rede.
Seguimos com “Valor que Transforma”, onde discutimos vendas e precificação com afeto e estratégia, reconhecendo o valor simbólico e financeiro do nosso trabalho.

Formação Elas no corre, em aula presencial, na sede do Centro de Direitos Humanos do Campo Limpo, turma 2025. Foto: Acervo
Em “Dona da Sua Arte”, desmistificamos os direitos autorais e a propriedade intelectual, afirmando que proteger o que criamos é um ato de resistência.
No encontro “Dinheiro na Roda”, falamos de educação financeira de forma simples e direta, conectando planejamento e liberdade.
E fechamos a última semana com “Grana na Quebrada”, trazendo o modelo de negócio para o chão da realidade — com seus desafios, mas também com as muitas potências que resistem e criam.
É fundamental dizer que não oferecemos fórmulas prontas. O Elas no Corre parte da escuta real das mulheres desde a inscrição, e a metodologia é construída coletivamente a partir das vivências e urgências trazidas. É um campo de fomento à economia criativa com intencionalidade e respeito à diversidade dos caminhos possíveis. É um método que pode e deve ser replicado por outras iniciativas, editais e políticas públicas que desejem de fato contribuir para o fortalecimento da autonomia financeira e próspera das mulheres periféricas.
Mesmo com a economia criativa representando 3,11% do PIB brasileiro, e mesmo com as mulheres sendo maioria nos segmentos criativos, ainda somos sub-representadas nas estatísticas de destaque, investimento e apoio estruturado. O que o Elas no Corre propõe é romper esse ciclo: visibilizar, fortalecer, remunerar e impulsionar essas mulheres com ferramentas, escuta e reconhecimento.
E é aqui, nesta coluna Gira Empreendedora, que compartilho essas experiências quinzenalmente. Porque a economia que queremos precisa nascer com o cuidado das bordas e ser contada por quem vive o corre — e não apenas estudada por quem observa de longe.
Seguimos no corre. Seguimos girando. E seguimos escrevendo para mudar o centro de onde se olha.
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Gira Criativa – Um Giro Pela Potência da Periferia
A cada quinze dias, a Gira Criativa convida você para uma troca viva, pulsante e necessária sobre empreender na Economia Criativa e nos Negócios de Impacto da Periferia. Este não é só um espaço de fala — é espaço de escuta, de conexão e, sobretudo, de celebração dos saberes e fazeres que brotam dos territórios.
Aqui, giramos saber, conhecimento e prática. Costuramos sonhos com método, criatividade com resistência, cultura com desenvolvimento. Através de reflexões, relatos e provocações, vamos publicizar as pedagogias que nascem das brechas, das encruzilhadas e da força da Educação Popular — aquela que não se aprende só em livro, mas na vivência, no fazer coletivo e no corre diário de quem transforma sua realidade.
A Gira Criativa é também um chamado. Um convite para quem entende que empreender na quebrada não é só gerar renda, é gerar impacto, autonomia, pertencimento e futuro. Porque aqui, criar é resistir. E resistir é também girar: transformar, movimentar e nunca deixar parar.