Coluna Ombala


Celebração da Festa Junina, no Colégio Franciscano Santa Isabel, na quebrada do Jardim São Luís. Fotos: Laís Araújo (professora) e Alunos
//Silvia Mungongo
A origem da festa junina no Brasil remonta ao século XVI. As festas juninas eram tradições populares na Península Ibérica (Portugal e Espanha) e, por isso, foram trazidas para cá pelos portugueses durante a colonização, assim como muitas outras tradições. Quando introduzida no Brasil, a festividade era conhecida como festa joanina, em referência a São João Batista, mas, ao longo dos anos, o nome foi alterado para festa junina, em alusão ao mês de junho.
Além da forte conotação religiosa – que, com o tempo, foi em parte substituída por um caráter mais popular – a festa passou a incorporar símbolos típicos das zonas rurais brasileiras. Seu crescimento foi especialmente marcante no Nordeste, região que hoje abriga as maiores celebrações. Desde sua chegada, a festa junina sofreu influências das culturas africanas e indígenas, ganhando assim características particulares em cada região do Brasil.

Com tomba-latas, roletas, pescaria, galinha na panela – brincadeiras queridas pelas crianças –, além de quadrilhas, chá de amendoim, milho, pamonhas, canjica, entre outras delícias, o evento junino se consolidou como um espaço privilegiado para refletir sobre a diversidade cultural que marca o Brasil e valorizar a riqueza de cada região. Afinal, a diferença constrói o mundo. A diferença constrói o Brasil.
Países como Canadá, Rússia, Suécia, Noruega e Espanha também realizam festas juninas. De onde venho (Angola), essa festa não existe, mas eu sempre tive curiosidade em saber mais. Lembro-me que, por ocasião dos debates nas eleições presidenciais de 2022, uma candidata disse a seu adversário: O senhor é um padre de festa junina. A frase virou meme no Brasil, mas, na época, eu não compreendi o sentido. Dois anos depois, vivendo aqui, pude rir da piada. Agora entendo um pouco mais sobre o contexto cultural da festa junina.
Como afirmei no início, mais do que uma celebração, o evento junino pode ser um espaço de solidariedade, diversidade e conscientização sobre desafios como o regionalismo, a xenofobia e a crise climática. Foi o que demonstraram os(as) estudantes do Colégio Franciscano Santa Isabel, na quebrada do Jardim São Luís.
A nossa casa comum está ameaçada, e precisamos romper com a ideia de que a natureza é uma fonte inesgotável de recursos. A preservação do meio ambiente é essencial para garantir a sustentabilidade e a qualidade de vida de todas as espécies. Trabalhar a ecologia e o meio ambiente como temas transversais nas áreas do conhecimento, desde a infância, é uma oportunidade de despertar a consciência ambiental, promovendo o respeito à natureza e incentivando práticas sustentáveis no cotidiano.

Foto: Arte alunos
Neste contexto, o colégio definiu como tema do ano: Casa Comum, Cuidado Integral. O objetivo foi sensibilizar estudantes e a comunidade para a importância da preservação dos recursos naturais, refletir sobre os impactos das ações humanas no planeta e fomentar atitudes responsáveis, aplicáveis na escola, em casa e na sociedade. Também se buscou valorizar a fauna e a flora brasileiras, considerando os biomas como patrimônios ecológicos de grande importância.

Mapa com a representação dos principais biomas do Brasil: Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado, Pampa, Amazônia e Pantanal.
Foi encantador testemunhar a representatividade demonstrada nas apresentações de cada turma, que destacou um dos principais biomas do Brasil: Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado, Pampa, Amazônia e Pantanal.
Essa iniciativa merece destaque, considerando que o Brasil é o berço da maior biodiversidade do planeta. Os estudos sobre os biomas foram adequados às diferentes faixas etárias e integrados ao Projeto Pedagógico das unidades curriculares. A festa junina é também um lugar de aprendizado. Um bem-haja a esse movimento cultural tão rico!
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Silvia Mungongo: natural de Luanda, Angola, atualmente residente na cidade de São Paulo, é socióloga, ativista, poeta e jornalista. Profissional de comunicação com sólida experiência em redação, locução, reportagem e edição. Atuou em diversas plataformas, como rádio, televisão e mídia digital, desenvolvendo e apresentando conteúdos informativos e engajadores.
Sobre a coluna: Ombala é uma palavra na língua angolana Umbundu, que significa capital ou sede. Portanto, um lugar de encontros e reencontros e onde normalmente residem Reis e Rainhas. A coluna pretende ser um espaço de reencontro da cultura africana, seus fazedores e sua abrangência na diáspora. Será um prazer ter-vos por aqui. Ngasakidila!