Manda Notícias, Alma Preta, Jornal Empoderado e A Ponte debatem jornalismo comunitário na USP

Foto: Carolina Rosa/Manda Notícias
Texto e Fotos: Carolina Rosa
Nesta segunda-feira, 7 de abril, Dia do Jornalista, o Auditório Freitas Nobre, do Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE), da Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP), realizou uma roda de conversa sobre jornalismo emancipatório e popular e o lançamento do Manual de Redação do Notícias o Jardim São Remo e do Portal Central Periférica.
O evento fez parte de uma série de atividades promovidas pela USP em comemoração ao dia do jornalista, e para a mesa de debate contou com a presença dos jornalistas Antônio Junião, da Ponte jornalismo; Gisele Alexandre, editora-chefe do Manda Notícias; Pedro Borges, editor do veículo Alma Preta e Anderson Moraes, repórter do Jornal Empoderado, todos profissionais da imprensa independente, racializada e periférica. Na mediação da mesa esteve presente Edilaine Felix, doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciências da Comunicação (PPGCOM) e co-autora do manual, e Juliana Salles, doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina (Prolam).
O manual foi desenvolvido pelo professor Dennis de Oliveira, do CJE, e pelos alunos do primeiro ano do curso de Jornalismo, no contexto da disciplina Laboratório de Iniciação em Jornalismo – Jornal Comunitário. Seu objetivo principal é apoiar os estudantes na padronização e na elaboração de textos jornalísticos, garantindo, ao mesmo tempo, a representação justa dos interesses das comunidades abordadas. O material ainda traz a trajetória do jornal-laboratório Notícias do Jardim São Remo (NJSR) e do Portal Central Periférica, ambos projetos oriundos da disciplina de jornalismo comunitário.
Fotos: Carolina Rosa/Manda Notícias
Dentre as falas trazidas pelos convidados, o jornalista Pedro Borges comentou sobre o veículo Alma Preta e como ele resistiu através do tempo, incluindo a criação do manual de redação lançado em 2023.
“Fico feliz em estar presente em um evento como esse, cheio de jovens estudantes e futuros jornalistas, compartilhando da presença dos colegas de profissão que aqui estão. Aproveito para parabenizar os alunos e orientadores envolvidos na criação do manual de jornalismo comunitário. O jornalismo direcionado é de fato mais complexo de ser construído, onde nós temos que fazer escolhas essenciais para o caminhar das editorias e criar a identidade do veículo, acompanhando pautas que não são “rentáveis” para a grande mídia. Um manual de redação é exemplo disso, nós do Alma, entendemos o manual como uma ferramenta fundamental para os veículos independentes, por serem orientações que vão além das técnicas, é de fato um posicionamento político no trabalho que desenvolvemos”, afirmou Pedro.
O Papel do Jornalismo Comunitário e Periférico para difusão da informação
Anderson Moraes, jornalista do Jornal Empoderado, deu um panorama sobre a criação do veículo: “O jornal do empoderado nasceu em 2016 com o objetivo de ser a voz do invisível, principalmente quando esse povo está vivo e quer e precisa ser ouvido. Nós entendemos que antes de qualquer reconhecimento, quando ele de fato vem, seguimos sendo Marielles e eu percebo que o jornalismo comunitário tem essa função, de fortalecer múltiplas vozes e informar com posicionamento, porém trazendo as várias faces da reportagem, acreditamos nesse valor do jornalismo comunitário”.
Gisele Alexandre, editora-chefe do Manda Notícias, complementou a fala dos colegas, trazendo como o jornalismo periférico nasce quase sempre de uma urgência, que é falar diretamente com um território, sem a interferência dos veículos hegemônicos que confundem informações em determinados momentos , “O Manda Notícias existe pela urgência e necessidade que eu tinha de falar com a minha comunidade sobre a pandemia, informar de maneira direta, ou seja, traduzir as informações trazidas dos grandes veículos e eu acredito que se todo território da cidade de São Paulo tivesse essa comunicação local, teríamos quebradas inteiras emancipadas pela informação”, concluiu Gisele.
O diretor de arte e projetos especiais da Ponte Jornalismo, Antônio Junião, reforçou a importância da prática da apuração jornalística principalmente dentro de uma lógica de disputa de imaginário da população exposta aos veículos hegemônicos, “Um dos trabalhos mais importantes da Ponte é justamente fazer essa ponte com a periferia e isso só é possível quando há uma apuração bem feita, que investigue os fatos e questione as informações que vêm da grande mídia e da polícia, por exemplo. Nosso papel enquanto fazedores de um jornalismo emancipatório é ir além de boletins de ocorrência, é necessário irmos até o local para ouvir atentamente todas as partes e principalmente a voz das vítimas”, afirmou Junião.
Pedro Borges, por sua vez, reforça a fala de Antônio Junião e acrescenta que o jornalismo que trata direitos fundamentais, precisa trabalhar sempre em conjunto, alinhando ideias e pautas para somar forças e histórias que enriqueçam a reportagem. “Hoje em dia, é comum ver muitos jornalistas, mas tem sido cada vez mais raro conhecer repórteres que estejam realmente empenhados a apurar uma informação, ir de fato para rua. Além disso, trabalhar em conjunto pode ser muito enriquecedor para os veículos e para os leitores, digo por fazer sempre parcerias com a Ponte Jornalismo e amar tudo que conseguimos criar juntos”, concluiu.